29 de setembro de 2011

NA COZINHA COM WARISON CARLOS

Que comer é um dos maiores prazeres da vida, muitos concordam. Porém, concordar com o interdito: “Carregado ou reimoso” – rhêuma. Significado: fluxo, escoamento (referência aos líquidos que saem do corpo). E também carne mole ou músculo dolorido, daí vindo "reumatismo". Na crença popular, carregado é alimento que “faz mal” a doentes ou mulheres em resguardo.

A famosa comida “carregada” que nossas avós sertanejas costumavam a bloquear em nossa mesa, que intoxica, inflama um ferimento, atrapalha a cicatrização e, como se não bastasse há quem diga que provoca coceira e até diarréia. Cada local com seu tabu, mas em quase todos é perceptível, a presença de: carneiro, crustáceos, pato, peru, porco e chocolate. Sem falar de algumas frutas, como a melancia - "Nenhuma planta que enrame pode ser comida por quem padeça de moléstia de pele porque a enfermidade se alastra, e como a planta se multiplica pelas ramas"; ou abacaxi "O enfermo de feridas que saboreia o abacaxi, tê-las-á salientes, formando bicos como a fruta servida", é o que pontua Câmara Cascudo em História da Alimentação no Brasil.

A superstição chegou ao Brasil com os primeiros colonizadores. "As nossas superstições em matéria alimentar vieram de Portugal e são todas maiores de seis séculos", continua mestre Cascudo. Que nossos índios, em suas mesas, apenas evitavam comer os "animais totens" - aqueles que lhes protegiam. E escravos africanos nunca deixavam restos de comida no prato, para que não fossem aproveitadas por espíritos atormentados. Superstição vem do latim "superstitio", que significa "excessivo receio dos deuses". Ou "crença sem lógica". E assim se dá, neste caso, em que não existe um único estudo científico que comprove algum malefício causado por esses alimentos “carregados.” Alguns até zombam, custam acreditar, mas a verdade é que ninguém se arrisca a desobedecer. Afinal de contas, o psicológico nessa hora fala mais alto. Que nunca foi pela mãe, ao tentar comer manga e após leite? E o porquê que a mistura dos dois não interferem no nosso organismo? Em lanchonetes americanas, o mangatone é dos maiores sucessos, e no Brasil já é visível a influencia. Sucos e vitaminas de todos os tipos de fruta – na água e no leite. Segundo os estudos da nutricionista Maria Lucia Barreto de Sá, da Universidade Estadual do Ceará, que quase todos têm em comum a alta concentração de proteína e gordura animal, capazes de provocar reações apenas em quem já é alérgico.

Os primeiros registros de restrições alimentares estão na Bíblia. Com o Senhor ensinando, aos filhos de Israel, quais as carnes que poderiam comer: "Entre todos os animais da terra, eis o que podereis comer: podereis comer todo animal que tem a unha fendida e o casco dividido, e que rumina. Mas não comereis aqueles que só ruminam ou só têm a unha fendida. A estes, tê-los-eis por impuros: tal como o camelo, que rumina, mas não tem o casco fendido. E como o coelho igualmente, que rumina, mas não tem a unha fendida; tê-lo-ei por impuros. E como a lebre também, que rumina, mas não tem a unha fendida; tê-la-ei por impura. E enfim, como o porco, que tem a unha fendida e o pé dividido, mas não rumina; tê-lo-ei por impuro. Não comereis da sua carne e não tocareis nos seus cadáveres" (Levítico 11, 2-8).

E para quem está livre a comer uma boa comida carregada, a ideia é envolver umas costelinhas de porco com alho e cebola e saboreá-la com um toque especial de laranja.
Costelinha de porco mineira ao molho de laranja
• 1 kg de costela suína;
• 1 ½ cebola grande;
• 6 dentes de alho;
• 3 colheres de sopa de óleo;
• 2 xícaras de chá de água;
• 6 laranjas;
• Pimenta do reino a gosto;
• Sal a gosto;

Modo de preparo:
Cortar as costelas uma a uma. Temperar com o sal e a pimenta, e reservar. Picar o alho e a cebola. Em uma panela leve ao fogo o olho e o alho picado. Deixar dourar em fogo baixo até ir queimando mesmo, na medida em que o óleo secar, adicionar um pouco de água, para ir tirar o fundinho da panela. Repetir a operação até que o alho esteja cor de chocolate, adicionar a cebola e deixar pegar a mesma cor do algo, repetir o mesmo processo com água até secar. Adicionar a costela aos poucos e deixar pegar a cor do alho e da cebola. Deixar cozinhar, e mexer de vez enquanto para não grudar. Adicionar um pouco de suco das laranjas e deixar cozinhar por aproximadamente 45 minutos. Juntar o restante do suco da laranja e cozinhar ao ponto que a carne esteja querendo soltar do osso. Servir quente, com um acompanhamento de sua preferência. Em mina costumam comer a costela com uma polenta. Bom apetite.

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