"E o pulso ainda pulsa...". O refrão entoado pelo cantor, Arnaldo Antunes, na música "O Pulso", cabe, na medida, para explicar o atual momento nos bastidores do Coletivo Fora Micarla. Nove dias depois da desocupação da Câmara Municipal de Natal, os estudantes, garantem, têm fôlego para muito mais. As manifestações, na rede mundial de computadores, e nas ruas, continua firme.
Marcos Aurélio Garcia é um dos integrantes do Fora Micarla
"Até que tudo cesse, nós não cessaremos", afirma Marcos Aurélio Garcia de Lemos, 28 anos, da Comissão de Imprensa do Coletivo. Marcos Aurélio faz militância política e social desde 1996. Ingressou no movimento estudantil aos 13 anos. "Esse foi o momento mais belo, mais marcante na luta de classes nesses 15 anos que me dedico à militância. Em onze dias o movimento ganhou consistência política e organicidade única".
O movimento que parou a sede do Poder Legislativo por dez dias reúne estudantes do ensino médio, universitários, sindicalistas, trabalhadores, militantes partidários e integrantes de segmentos organizados da sociedade civil. A maioria, jovens entre 17 e 35 anos, familiarizados com a conectividade, com o compartilhamento de informações e com os sites de relacionamento na internet. São adeptos do Twitter, do Facebook, do Orkut e de tantas outras redes.
Como muitos, em outros continentes e mesmo no Brasil, usaram essa "existência virtual" não apenas para manifestar e potencializar suas insatisfações, mas para mobilizar e fazer o movimento transbordar para as ruas. "O negócio era extravasar, ir para as ruas, mostrar que é preciso mudar a cultura política, essa representatividade falha. Não adianta ficar só criticando no Twitter", afirmou a concluinte do curso de Direito, Natália Bastos Benavides, 23 anos, integrante da comissão jurídica do Coletivo.
Em entrevista na manhã da quinta-feira, 23, feriado de Corpus Christi, Natália Benevides, Hélio Miguel Santos Bezerra, 25 anos, e Natália de Sena Alves, 23 anos, lembraram que, aqui, a mobilização social dos jovens teve como ponto de partida a luta pelo Passe Livre, em 2006. De lá para cá, o ativismo nas redes de relacionamento na internet se fortaleceu.
Em dezembro de 2010, foram as manifestações contra o aumento da tarifa de ônibus e este ano, em abril contra os preços dos combustíveis. Nos dois casos, os protestos migraram das redes sociais digitais para as ruas. "A internet foi uma ferramenta importante para mobilizar, principalmente a classe média, porque não é apenas quem usa a escola pública; o posto de saúde que está descontente", disse Natália Sena.
Nas últimas semanas, o movimento Fora Micarla ganhou destaque nacional e chegou a ser denominado pela revista Carta Capital, em reportagem sobre o assunto, como "ciberativismo". Os jovens que integram o Coletivo Fora Micarla preferem outra definição: "Ativismo Ciberinterativo". Na noite de quinta, 23, as manifestações no Rio Grande do Norte foram destacadas no programa "Entre Aspas", da Globo News.
Gil Giardelli, professor de pós-graduação na disciplina de Redes Sociais, da Escola Superior de Propaganda e Marketing e Marcos Nobre, professor de Filosofia da Unicamp falaram sobre o ressurgimento da mobilização de jovens e destacaram as mídias sociais como "a era das grandes verdades", que rompe um cinturão de autodefesa do sistema político.
Na entrevista, citaram a mobilização dos jovens no Rio Grande do Norte e no Espírito Santo, como um grande processo na construção de uma sociedade em rede. A exemplo do que acontece na Espanha, onde mais de 60 mil pessoas foram às ruas mobilizadas pelas redes sociais. "No Rio Grande do Norte, eles criaram, nas redes sociais, uma coordenação nova. Disseram olha está todo mundo reclamando, um de saúde, outro de educação, outro de transporte. Vamos nos juntar. Isso é um grande processo", destacou Giardelli.
Os manifestantes do Fora Micarla tem consciência da dimensão do ativismo que estão fazendo. "A interação com a população foi muito grande. O movimento ganhou vida orgânica. Até porque nossa luta é toda na vida real, no cotidiano. Nós somos ativistas das lutas reais da rua", argumenta Marcos Aurélio.
A grande diferença, em relação a momentos anteriores, completa, é que "agora, sabemos usar novas ferramentas de comunicação para nos mantermos mais conectados e mais interativos". Para Giardelli e Nobre os jovens estão dizendo o que todo mundo já sabia. "Eles estão falando assim: nossos sonhos não cabem mais em suas urnas", resumiu Giardelli.
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